Imagem do frontispício da Igreja de Ordem Terceira do Carmo, onde podemos visualizar os detalhes da fachada e da torre da igreja. O edifício ao lado esquerdo é o da Secretaria da Fazenda, construído onde antes se encontrava a Igreja da Ordem Primeira e o Convento. Acessado em 12/09/2019
Fonte: http://www.ipatrimonio.org/
Igreja de Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo
Em localização estratégica, popularmente conhecida como igreja do Carmo, fazia parte do conjunto arquitetônico do convento e igreja da Ordem Primeira do Carmo construídos entre 1592 a 1594, demolidos na década de XX dando lugar ao edifício da Secretaria da Fazenda juntamente com o alargamento da Avenida Rangel Pestana, restando somente a capela de Ordem Terceira do Carmo. A atual igreja é detentora de um dos acervos mais representativos da arte colonial paulistana.
A primeira Capela da Ordem Terceira do Carmo foi construída ao lado da igreja dos frades por volta de 1632. Entre 1676 e 1691 é reconstruída em taipa de pilão. O edifício da igreja, teve sua construção iniciada por volta de 1747 concluído em 1758. Depois de passar por algumas reformas e remodelações, em 1922 foram iniciadas novas obras, concluídas em 1927, datando dessa época seu estado atual.
Vale ressaltar a importante atuação do escravo Thebas*, Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811) sendo o seu senhor contratado pelos carmelitas para a execução das obras, o português Bento de Oliveira Lima, mestre de obras que lhe ensinou o ofício de pedreiro, vindos da cidade de Santos (SP) para aproveitar as oportunidades na Vila de de São Paulo. Na época era comum em Santos utilização da pedra lavrada ao contrário da pequena Vila de São Paulo colonial, atrasada no tempo com suas construções ainda em taipa de pilão.
O trabalho do escravo arquiteto, Thebas foi um marco fundamental referente as técnicas construtivas, fazer construções altas, manipular a pedra lavrada e construir torres de igrejas era uma tarefa que ninguém sabia fazer, somente ele. Sua fama logo percorreu por toda a região, pois era o único que dominava a técnica na época.
No ano de 1766, Thebas concluiu o frontispício da Igreja do Carmo**, a nova fachada passou a exibir características barrocas com curvas e antecurvas, substituindo o antigo frontão triangular original, na porta de entrada com arco batido e novas janelas paralelas. Ele foi capaz de captar o estilo barroco e as técnicas de construção mais avançadas para a época, transformando o cenário urbano da cidade no período.
A decoração do interior da igreja ficou a cargo de uma importante figura, do Padre Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1819), com suas pinturas no forro da nave do templo, executadas entre 1796 a 1798, resgatadas e restauradas em 2008 depois de passar mais de um século debaixo de camadas de tinta.
A ornamentação interna, como talhas, douração e móveis originais são do período barroco subsequentes contendo também obras de pintura executadas em fins do séc. VXIII por José Patrocínio da Silva Manso (1740-1801), padre Jesuíno foi seu auxiliar em Itu (SP).
Fazem parte do acervo da Igreja o conjunto de 18 painéis de autoria do padre Jesuíno, provenientes do antigo recolhimento de Santa Teresa.***
Vale ressaltar que o padre Jesuíno era afrodescendente, pardo, com o nome de Jesuíno Francisco de Paula Gusmão nasceu na cidade de Santos em 1764, foi dourador, construtor de órgão, pintor de imagens de santos e tetos de igreja, músico e arquiteto, exerceu o seu trabalho nas cidades de Santos, São Paulo e Itu, faleceu em 1819 na cidade de Itu (SP).
Por sua importância histórica e cultural vale visitar este espaço com olhos apurados, prestando atenção em cada detalhe para apreciar sua rica ornamentação e beleza.
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* Segundo Nuto Sant’ Anna, o apelido “Thebas” foi adquirido por Joaquim Pinto justamente pela sua habilidade como construtor, e inspirado no arquiteto tebano Édipo de Tebas. Ver: SANT’ ANNA, Nuto. Thebas o Escravo – lenda paulistana do século XVIII. 1 Ed. São Paulo: Editora Brasil, 1939.
**Thebas chegou a trabalhar em outras importantes construções como a torre da antiga igreja da Sé, o Chafariz do antigo Largo da Misericórdia (esse largo ficava no início da rua Direita) e na antiga construção Mosteiro de São Bento.
*** O Recolhimento de Santa Teresa foi o primeiro convento de mulheres da cidade de São Paulo, fundado no século XVII e mantido pelas freiras carmelitas. No início do século XX o convento foi desapropriado e demolido, dentro do plano de reurbanização do centro da cidade. Conseguiu-se salvar as pinturas do teto da nave da capela, pintadas pelo padre Jesuíno do Monte Carmelo no século XVIII que representam cenas da vida de Santa Teresa Doutora. Essas pinturas foram doadas em 1924 pelo então Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, para a Ordem Terceira do Carmo e lá permanecem expostas no corredor lateral esquerdo. MURAYAMA, Eduardo Tsutomu. “A Capela de Santa Teresa da Venerável Ordem Terceira do Carmo da cidade de São Paulo e o resgate da pintura do padre Jesuíno do Monte Carmelo”. ANPAP 18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 – Salvador, Bahia. p. 1743 – 1755.
Imagens de detalhe da igreja por dentro:
Bibliografia:
ARROYO, Leonardo. Igrejas de São Paulo – introdução ao estudo dos templos mais característicos de São Paulo nas suas relações com a crônica da cidade. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: Editora Livraria José Olympio, 1954.
MURAYAMA, Eduardo Tsutomu. “A Capela de Santa Teresa da Venerável Ordem Terceira do Carmo da cidade de São Paulo e o resgate da pintura do padre Jesuíno do Monte Carmelo”. ANPAP 18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 – Salvador, Bahia. p. 1743 – 1755.
SANT’ ANNA, Nuto. Thebas o Escravo – lenda paulistana do século XVIII. 1 Ed. São Paulo: Editora Brasil, 1939.
Mais Informações:
Endereço: Avenida Rangel Pestana, 230 – Centro – São Paulo – SP
Telefone: (11) 3242-8361