26 de agosto de 2020

Grupo Santa Helena foi fundamental para a consolidação da arte moderna no Brasil, a denominação foi dada a um grupo de pintores que se uniram no antigo Palacete Santa Helena entre os anos de 1935 a 1940. Os artistas foram chegando aos poucos no edifício, ocupando o espaço de duas salas transformadas em ateliê, onde compartilharam aprendizados, modelo vivo e sessões de pintura ao ar livre, nos arredores de São Paulo.

Alfredo Volpi, com amigos na oficina do Grupo Santa Helena em São Paulo. Da esquerda para a direita: Francisco Rebolo, Volpi, Paulo Rossi Ossir, Nélson Nóbrega e Mário Zanini. Foto do final dos anos 1930 cortesia de Olívio Tavares de Araújo VOLPI © Imaginação.

O Antigo edifício do Palacete Santa Helena localizado na Praça da Sé (demolido no início da década de 1970 para a construção do metrô), foi construído no início da década de 1920, sendo inaugurado em 1925, na época foi considerado um dos maiores edifícios de São Paulo, tanto na altura, quanto em área construída, inicialmente o luxuoso edifício foi destinado a atividades comerciais e de serviços, e acabou incorporando um cineteatro ao longo de sua execução, devido à crescente agitação cultural da cidade no início do século XX.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/

 

Fonte: https://commons.wikimedia.org/
Autor: Ivo Bannetti

 

Palacete Santa Helena – Praça da Sé nos anos 50.
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/653444227157447150/

Construído para atender a elite paulistana, com sua localização central em pleno coração da cidade, próximo ao Páteo do Colégio (centro do Governo) e da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Algumas salas de início foram ocupadas por profissionais de prestígio e influentes políticos, contava também com bares e cabarés onde se reuniam políticos e pessoas da alta sociedade. Se tornou ponto de encontro de artistas e intelectuais como Mario de Andrade, Menotti Del Picchia, Oswaldo de Andrade.

Com o declínio da economia cafeeira e consequente perda de poder político dos fazendeiros de café para Getúlio Vargas, após 1930 com a popularização de centro velho e substituição do seu público frequentador o Palacete Santa Helena perdeu o prestígio e passou a ter usos menos elitizados, como abrigar associações de classes, serviços de construção civil e decoração.

O grupo era composto por nove artistas, dentre eles Francisco Rebolo Gonsales, Mário Zanini, Clóvis Graciano, Manoel Martins, Alfredo Volpi, Fúlvio Pennachi, Aldo Bonadei, Humberto Rosa e Alfredo Rullo Rizzotti. Juntos compartilhavam o ateliê no segundo andar do prédio, dividindo os custos com aluguel e modelo vivo. O espaço era visitado por outros pintores, e segundo a pesquisadora Michelle Yara Urcci, “o local passou, então, a ser mais que um espaço de trabalho durante o dia, mas se transformou, especialmente nos finais de expediente e durante a noite, em lugar de conversas, permuta de informações e experiências, e também lugar de aprendizado, com o estudo de modelo vivo compartilhado então, por outros pintores também”.

Conheça os pintores:

Imagen: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/
https://www.guiadasartes.com.br/alfredo-volpi/imagens

 

Imagens:
https://www.guiadasartes.com.br/aldo-bonadei/principais-obras
http://galeria22.com/biografia/clovis-graciano/
https://fulviopennacchioficial.com/

 

Imagem:
https://www.espacoarte.com.br/artistas/mario-zanini?id=176

 

Diferentemente dos modernistas da Semana de Arte Moderna de 1922, provenientes de famílias abastadas ou burguesas, os santelenistas eram de origem simples, trabalhadores e da pequena burguesia em ascensão.

Identificados pela origem social, eram imigrantes ou filhos de imigrantes que enfrentavam as mesmas situações cotidianas, possuíam também outro ponto em comum no que diz respeito à formação como pintores. Em sua maioria eram autodidatas no sentido de não terem frequentado academias de arte, exceto Bonadei, Pennachi e Rizzotti, fizeram cursos na Itália, Clóvis Graciano, por indicação de Portinari teve aulas particulares com o pintor Waldemar da Costa (1904-1982), Rebolo e Zanini eram frequentadores das sessões de modelo vivo da Escola Paulista de Belas Artes. Esses artistas provinham de profissões artesanais, ligadas geralmente ao uso das tintas e do desenho atuando como pintores de parede, de placas e letristas.

Segundo a pesquisadora Lisbeth Rebollo Gonçalves, “… Trata-se de um grupo de pintores que evolui do trabalho artesanal para um projeto estético, que permanece individual, mas é marcado pela observação mútua e pelo estímulo dos companheiros”.

A formação desses pintores se deu basicamente para que pudessem aprender uma profissão, seja em instituições de ensino, com professores particulares ou com os próprios colegas, aprenderam uma atividade especializada de trabalho para que pudessem, principalmente, prestar seus serviços. Concomitante realizavam outros cursos, voltados para o aprimoramento da técnica e o aperfeiçoamento da execução de obras.

Com a dificuldade em vender suas obras, já que o mercado de arte ainda era incipiente nesta época em São Paulo, esses pintores sobreviviam, portanto, de outros trabalhos, em especial aqueles ligados à decoração, bem como ilustração, cenografia e propaganda,

Vale ainda ressaltar que o Grupo Santa Helena surgiu espontaneamente, não realizou exposições exclusivas e não lançou um manifesto, como os modernistas o fizeram anos antes, na Semana de Arte Moderna de 1922.

Ainda sobre os satelenistas, por serem formados em uma tradição ligada às artes decorativas, eram rejeitados, já que esse gênero sofria preconceito no Brasil. Só ganharam notoriedade quando críticos, como Mário de Andrade e Sérgio Milliet deram destaque em seus textos.

A primeira geração modernista, a da semana de 1922 havia se caracterizado pela preocupação essencialmente em combater a arte acadêmica e rejeitar agressivamente os seus cânones, coube a geração seguinte dar continuidade ao debate sobre o movimento renovador. Basicamente, os artistas consideravam que a apropriação das inovações formais e temáticas promovidas pelo Modernismo não deviam ser acompanhadas pelo abandono do apuro técnico nas obras, se negavam a menosprezar o que, nesse campo, havia de desenvolvido ao longo da história da arte. Os integrantes do Grupo Santa Helena se identificavam com o modernismo mais moderado.

Outra característica do grupo é no que concerne a temática de suas pinturas, com temas fabris e o mundo do trabalho, com casebres, operários, as estações de trem, a paisagem da periferia, multidões urbanas, assim como lavadeiras junto ao rio, crianças que brincando nas ruas. Cenas da cidade de São Paulo são captadas assim também como bairros, Canindé, Cambuci, Ipiranga e Casa Verde, mostrando uma cidade em transformação pela modernidade.

Alguns exemplos de obras:

Francisco Rebollo Gonsales – Lavadeiras, 1937
Imagem: Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini

 

Clóvis Graciano – Trabalho com o Café, Pintura, 1970.
Imagem: Reprodução fotográfica João L. Musa/Itaú Cultural

 

Mário Zanini, Canindé, 1940.
Imagem: https://www.researchgate.net/figure/Figura-4-Mario-ZANINI-Caninde-1940-Oleo-sobre-tela-Museu-de-Arte-Contemporanea-da_fig1_330113830

Dentre o período em que esses pintores dividiram o ateliê no Palacete Santa Helena, segundo Michelle Yara Urcci, suas pinturas sugerem uma modernização às avessas, pois ao invés de produzirem imagens de uma São Paulo urbana, industrial a partir de cenas nas quais há um ambiente em agitação, com muitas pessoas, carros e edifícios – elementos que propõem diretamente a ideia de modernização da cidade – nota-se que as obras destes pintores nos mostram em grande parte os arrabaldes, as cercanias da cidade e não do centro.

Conforme os pintores desenvolviam suas habilidades e participavam de exposições, passaram cada vez mais a sobreviver da pintura. Mesmo depois de terem deixado o Palacete, trabalhando em espaços diferentes, as relações entre eles permaneceram.

 

Referências Bibliográficas:

URCCI, Michelle Yara. Os Pintores do Palacete Santa Helena: imagens da São Paulo entre 1935 e 1940. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

GONÇALVES, Lisbeth Rebollo. Aldo Bonadei: o percurso de um pintor. Coleção Debates. São Paulo: FAPESP, 1990.

MARIUZZO, Patrícia. “80 anos do Grupo Santa Helena”. Ciência e Cultura. Vol. 68. São Paulo, 2016. Disponível em:

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252016000300020

Acesso: 24/08/2020.

 

escrito por
Nadiana S Teodoro

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