21 de dezembro de 2023

Avenida Angélica. Créditos de Imagem: Alessandra Haro – Memorial da Resistência.

O que hoje conhecemos como Bairro de Higienópolis, na segunda metade do século XIX entre as inúmeras propriedades da região, salientam-se três chácaras que pertenceram a três senhoras, conhecidas hoje como nomes de ruas: d. Maria Antônia da Silva Ramos, d. Angélica de Souza Queiroz Aguiar Barros e d. Veridiana da Silva Prado.

D. Maria Antonia. Imagem de Reprodução.

Dona Maria Antônia da Silva Ramos (1851-1902) era filha do barão de Antonina, próspero negociante que chegou a ser senador do Império. Foi casada com o tenente-coronel Mariano José Ramos. Possuía uma chácara onde não residia, ocupava suas terras com pomar e pasto para seus cavalos.

Ao saber das dificuldades do reverendo Chamberlain em encontrar uma área para instalar um internato educacional, a Escola Americana, prontificou-se em vender uma área do terreno a ser desmembrado de sua chácara, na verdade uma venda simbólica. No local atualmente se encontra a Chácara Lane, o campus Higienópolis do Mackenzie, além de moradias, estabelecimentos comerciais e toda uma vivência.

D. Maria Angélica Souza Queiroz Aguiar de Barros. Créditos de Imagem: https://commons.wikimedia.org/

Dona Maria Angélica Souza Queiroz Aguiar de Barros (1842-1929) era filha do barão de Souza e Queiroz, casou-se em 1862 com seu primo, o dr. Aguiar de Barros, filho dos barões de Itu. O casal abriu, nos primeiros tempos, uma fazenda de café. Ao retornarem para São Paulo, e apreciando muito a vida de fazenda, d. Angélica quis residir fora da cidade. Em 1874, seu marido arrematou a Chácara das Palmeiras.

Contam os seus descendentes que ela entendia bastante de agricultura e pecuária, assumindo o controle da fazenda e de outras propriedades quando o marido se ausentava. Dona Angélica foi a primeira pessoa em São Paulo a importar vacas holandesas que ficaram nesta chácara.

Por volta de 1893, d. Angélica deixou a casa-grande para residir no palacete da avenida Angélica. Para construir o seu palacete, inspirou-se no castelo de Charlottenburg (na Alemanha), mediante planos, materiais e até decoração, encomendados pessoalmente na Alemanha.

Quando D. Angélica enviuvou, ficou à frente dos negócios, tornando-se o centro da vida familiar. Fez lotear a Chácara das Palmeiras, adotando uma tática anti burguesa: preferia vender os lotes a quem fizesse a oferta mais baixa. Na contramão do usual, que era proteger e zelar pelo acúmulo das posses, mas, d. Angélica prevendo a desvalorização de tais terras pela localização próxima ao Cemitério da Consolação e o antigo Hospital de Isolamento (hoje Hospital Emílio Ribas), já que afastava as elites por questões sanitárias e de status.

Pertencente a uma das famílias mais tradicionais e economicamente poderosas, teria se sobressaído no plano da filantropia. Possuía uma personalidade autoritária e dona de princípios morais e religiosos muito rígidos, dura na relação com os filhos e nas tarefas impostas aos ciados.

D. Veridiana Valéria da Silva Prado. Créditos de Imagem: https://commons.wikimedia.org/

Dona Veridiana Valéria da Silva Prado (1825-1910), não há dúvida nenhuma de que foi a que mais contribuiu para a evidência do local, graças não só ao prestígio social de que gozava, mas também às suas iniciativas e a seu modo de vida.

Era filha de Antônio da Silva Prado, Barão de Iguape, próspero comerciante de açúcar e de tropas. Casou-se com seu meio tio, Martinho da Silva Prado, que se tornou importante cafeicultor. O casal teve seis filhos, quatro dos quais teriam grande atividade no mundo econômico e político e morava em um sobrado de taipa do século XVIII que ficava ao lado da igreja Nossa Senhora da Consolação.

Indo contra as convenções da época em que viveu, ousou se separar do marido Martinho Prado, adquiriu um terreno e construiu um palacete inserido na chácara que denominou “Vila Maria”. Trouxe a planta da Europa, em estilo renascentista francês.

Extremamente refinada, voltada para os moldes culturais europeus, e muito avançada em relação à mulher de sua época, d. Veridiana promoveu em sua casa o primeiro salão cultural aberto que a cidade de São Paulo teve, no qual recebeu importantes figuras do mundo intelectual, político e artístico nacional e estrangeiro.

Veridiana organizava exposições, festas beneficentes, vendia frutas em leilões, patrocinava companhias teatrais, protegia artistas. Manteve grande interesse pelos esportes que estavam apenas iniciando entre nós. Incentivou as corridas de bicicletas e o football, esportes que, a princípio, foram praticados pela alta burguesia e pelos estrangeiros. Nesse sentido, juntamente com seu filho, o conselheiro Antonio Prado, mandou construir o Velódromo em parte de sua chácara da Consolação. Foi a primeira praça de esportes ao ar livre do país, com pistas para ciclistas feita nos moldes europeus.

Assim D. Veridiana da Silva Prado deixou seu nome vinculado a diversas iniciativas pioneiras em São Paulo. É bem verdade que ela escandalizou, e no fez de forma deliberada. Constituiu uma reação ao padrão de vida feminino instituído por nossa sociedade.

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Bibliografia:

Carvalho, Alana. Mulheres de SP: mulheres que transformaram São Paulo: VERSÃO SIMPLIFICADA (Portuguese Edition). Edição do Kindle.

HOMEN, Maria Cecília Naclério. O Palacete Paulistano: e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira:1867-1918. 2ª Edição – São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.

HOMEN, Maria Cecília Naclério. Higienópolis: a grandeza de um bairro paulistano. 2ª Edição – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2011.

escrito por
Nadiana S Teodoro

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